Problemas de tireoide
Capítulo 163
Autores:
Anderson Soares da Silva
Médico de família e comunidade. Professor do Departamento de Medicina Social
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(FMRP/USP). Doutor em Ciências Médicas pela USP.
Léa Maria Zanini Maciel
Professora associada da Divisão de Endocrinologia do Departamento de Clínica
Médica da FMRP/USP.
Patrícia Künzle Ribeiro Magalhães
Médica assistente da Divisão de Endocrinologia do Departamento de Clínica
Médica da FMRP/USP. Doutora em Clínica Médica pela FMRP/USP
HIPOTIREOIDISMO
Do que se trata
Mundialmente, o principal distúrbio da tireoide é o bócio endêmico (ou bócio carencial), contudo a principal disfunção hormonal tireoidiana é o hipotireoidismo primário, que se caracteriza pela diminuição da produção e secreção dos hormônios tireoidianos (HT).
O hipotireoidismo é uma doença comum,
que afeta mais as mulheres do que os homens e torna-se mais frequente com o
avançar da idade. Um dos estudos prospectivos mais bem conduzidos sobre a
epidemiologia das doenças da tireoide, realizado na cidade inglesa de Whickham,
constatou, ao final de 20 anos de acompanhamento, uma incidência média anual de
hipotireoidismo de 4,1 casos/mil entre as mulheres e de 0,6 casos/mil nos
homens.2 No Brasil, um estudo transversal realizado em São Paulo
verificou que 6,6% dos indivíduos adultos analisados apresentavam
hipotireoidismo.3
De maneira geral, as causas de
hipotireoidismo podem ser classificadas de acordo com a origem do problema:
hipotireoidismo primário, quando a disfunção tem origem na própria
tireoide; hipotireoidismo secundário, quando a etiologia é
hipofisária, levando a uma diminuição na secreção do hormônio estimulador da
tireoide ou tirotrofina (TSH); e hipotireoidismo terciário, quando houver
qualquer alteração na secreção do hormônio liberador de tirotrofina
(TRH). As duas últimas condições costumam ser agrupadas em hipotireoidismo
central e respondem por menos de 5% dos casos. Além disso, de acordo com o grau da disfunção
tireoidiana, o hipotireoidismo primário pode ser divido em hipotireoidismo
subclínico e hipotireoidismo declarado. Na primeira situação, a falência da glândula é mínima,
ocorrendo uma discreta diminuição dos HT, embora suas concentrações situem-se
dentro da faixa de normalidade; no entanto, devido à elevada sensibilidade
hipofisária, ocorre elevação discreta do TSH. Já no hipotireoidismo
declarado, existe uma diminuição mais acentuada da produção hormonal pela
tireoide, com consequente redução dos HT (abaixo da faixa de normalidade) e
elevação do TSH.
O hipotireoidismo pode ter diversas
causas (Quadro 163.1), sendo a tireoidite de Hashimoto ou tireoidite crônica
autoimune a etiologia mais comum em adultos residentes em áreas suficientes em
iodo. É uma doença autoimune, tanto humoral quanto celular, que tem como alvo a
glândula tireoide. Apresenta algumas peculiaridades, como: suscetibilidade
genética com agregação familiar, intenso infiltrado inflamatório
linfomonocitário do parênquima tireoidiano e presença de autoanticorpos
dirigidos contra antígenos tireoidianos, principalmente a tiroglobulina (Tg), a peroxidase (TPO) e o receptor de TSH. As mulheres são cerca de sete vezes
mais afetadas que os homens, e o pico de incidência encontra-se entre os 40 e os
60 anos.
Quadro 163.1. Causas de hipotireoidismo importantes para o
generalista
Grupo de causas
|
Hipotireoidismo primário (95% dos casos)
|
Tireoidite de Hashimoto
|
Pós-radioiodoterapia (doença de Graves)
|
Pós-cirurgia (tireoidectomia)
|
Deficiência de iodo alimentar
|
Fármacos (p. ex., amiodarona, lítio, interferon)
|
Tireoidite pós-parto
|
Doenças infiltrativas (p. ex., amiloidose, sarcoidose)
|
Hipotireoidismo secundário/terciário
|
Neoplasias do hipotálamo ou da hipófise
|
Pós-radioterapia da cabeça
|
Necrose hipofisária (síndrome de Sheehan)
|
Outros tipos de tireoidites autoimunes, como a tireoidite pós-parto
(também conhecida como tireoidite linfocítica) e a tireoidite de De Quervain (ou
tireoidite subaguda) podem resultar em um estado transitório de hipotireoidismo
(cerca de um ano), comumente precedido de um período de tireotoxicose, pela
destruição dos folículos tireoidianos e consequente liberação de HT. A
tireoidite pós-parto é a mais comum, chegando a afetar cerca de 5 a 7% das
puérperas nos primeiros meses pós-parto. Quanto à tireoidite subaguda, é a
principal causa de dor na tireoide, devido ao processo inflamatório que se
instala na glândula (acredita-se que o gatilho seja uma infecção viral das vias
aéreas superiores). Ambas possuem ótimo prognóstico, evoluindo para o estado de
eutireoidismo em cerca de 75 a 85% dos casos.4
A ingestão de fármacos (lítio, amiodarona) ou de medicamentos e alimentos que contenham iodo pode levar a quadros de hipotireoidismo transitório ou até mesmo permanente, sobretudo em indivíduos suscetíveis (moradores de países com maiores concentrações de iodo alimentar, portadores de doença autoimune da tireoide ou aqueles que tenham sido submetidos à radioiodoterapia). Acredita-se que tal mecanismo se dê pela inibição, tanto da síntese quanto da excreção do hormônio tireoidiano por esses medicamentos. Também, fármacos como o interferon ou interleucinas, utilizadas no tratamento de indivíduos com hepatite viral (B e C) e tumores malignos, podem causar hipotireoidismo via indução de autoanticorpos contra a tireoide.5
O que fazer
Anamnese
Raramente o médico deparar-se-á com quadros típicos de “figura-de-livro” (pessoa
com fácies infiltrada, rouquidão, letargia, ganho de peso, pele seca ou
intolerância ao frio), ensinados nas salas de aula ou enfermarias das faculdades
de medicina. Pelo contrário, na maioria das vezes, devido à evolução insidiosa
da doença, o médico encontrará pessoas com queixas inespecíficas, como: ganho de
peso (moderado), constipação intestinal ou sensação de parestesia (Quadro
163.2).6 Além da instalação lenta e progressiva da doença, muito
provavelmente contribuem para a dificuldade diagnóstica o amplo leque de
condições médicas ou de vida (separações, falecimentos na família, etc.) capazes
de simular as manifestações do hipotireoidismo ou até mesmo a própria diminuição
da capacidade de reconhecimento pela pessoa de que algo não está bem.
Quadro 163.2. Sintomas mais comuns relacionados ao
hipotireoidismo
Sudorese diminuída
|
Rouquidão
|
Parestesia
|
Pele seca
|
Constipação intestinal
|
Diminuição da acuidade auditiva
|
Ganho de peso
|
Portanto, a maneira como o hipotireoidismo se manifesta clinicamente depende
tanto da duração e do grau de diminuição do hormônio tireoidiano circulante
(abrupto, após a remoção cirúrgica da glândula, ou paulatino, típico das
tireoidites autoimunes) quanto da presença de outras condições (menopausa,
depressão, fibromialgia, etc.) comuns na faixa etária em que a doença é mais
frequente.
Ademais, algumas situações requerem
maior atenção do médico, devendo o hipotireoidismo sempre fazer parte do
diagnóstico diferencial em situações como as que se seguem:
- Crianças com atraso no desenvolvimento puberal, retardo no crescimento ósseo e baixo rendimento escolar;7
- Mulheres em idade fértil com oligomenorreia, amenorreia ou dificuldade de engravidar, aquelas com menorragia ou metrorragia, nos casos de hiperprolactinemia e naquelas com síndrome do climatério;8
- Em idosos, os sintomas clássicos (ganho de peso, parestesia, intolerância ao frio) podem estar ausentes e, quando presentes (p. ex., sensação de cansaço ou fraqueza), podem ser confundidos com sinais ou sintomas de outras doenças prevalentes nessa faixa etária.9
Por fim, é importante que o profissional esteja atento a algumas situações em
que é maior o risco de desenvolvimento de hipotireoidismo: puérperas; pessoas
com história familiar de doença autoimune da tireoide, ou história patológica
pregressa de irradiação da cabeça e/ou pescoço, ou radioterapia/ cirurgia da
tireoide; portadores de outras doenças autoimunes (p. ex., insuficiência
suprarrenal, anemia perniciosa, diabetes melito tipo 1, doença celíaca,
vitiligo, síndrome de Sjögren).
Exame físico
Quadro 163.3. Sinais mais comuns relacionados ao
hipotireoidismo
Atraso na fase de relaxamento dos ROT
|
Edema periorbital
|
Pele
infiltrada
|
Pele
fria
|
Letargia
|
Fonte: Zulewski e colaboradores.6
Em relação ao exame da tireoide, o aumento da glândula (bócio) pode ou não estar
presente. No caso da tireoidite de Hashimoto, a tireoide encontra-se aumentada
difusamente em 90% dos casos, apresentando uma consistência firme (semelhante à
de uma borracha escolar), irregular e indolor à palpação. Na tireoidite
pós-parto, a maioria das pessoas apresenta um bócio pequeno, firme e indolor. Já
a tireoidite subaguda caracteriza-se por um quadro de dor intensa na tireoide,
associado a febre e mal-estar geral.
Exames complementares
A confirmação laboratorial se faz pela dosagem de TSH e de tiroxina livre
(T4L) no plasma. No hipotireoidismo primário declarado,
ocorre elevação do TSH com diminuição do T4L, enquanto, na
forma subclínica, só é detectado um aumento discreto de TSH (geralmente até 20
mUI/L), com o T4L ainda dentro da faixa de normalidade. O
hipotireoidismo central é caracterizado por uma diminuição no
T4L associada a uma concentração de TSH inapropriadamente não
elevada.
Pode-se também requisitar a dosagem de
anticorpos antitireoidianos: antiperoxidase (anti-TPO, antigamente chamados de
antimicrossomais) e antitireoglobulina (anti-TgAb), pois, quando presentes em
altas titulações no plasma, principalmente o anti-TPO (positivo em 80 a 100% dos
casos de tireoidite de Hashimoto), reforçam bastante a possibilidade de
tireoidite autoimune.10 Além de possuírem valor diagnóstico, também
apresentam valor prognóstico, como no caso do hipotireoidismo subclínico: quanto
maior a titulação plasmática, maior o risco de evoluir para hipotireoidismo
declarado.
Uma vez que os sinais e sintomas do
hipotireoidismo são muitas vezes enganosos, o médico de família deve estar
sempre atento a algumas alterações laboratoriais que podem ser a chave para o
diagnóstico dessa condição. Algumas delas são: anemia normocrômica normocítica,
hipercolesterolemia (presente em cerca de 4 a 14% dos hipotireóideos),
hiponatremia, hiperprolactinemia, hipoglicemia e elevação da
creatinofosfoquinase (fração MM predominantemente).11
Conduta proposta
Pode-se também requisitar a dosagem de
anticorpos antitireoidianos: antiperoxidase (anti-TPO, antigamente chamados de
antimicrossomais) e antitireoglobulina (anti-TgAb), pois, quando presentes em
altas titulações no plasma, principalmente o anti-TPO (positivo em 80 a 100% dos
casos de tireoidite de Hashimoto), reforçam bastante a possibilidade de
tireoidite autoimune.10 Além de possuírem valor diagnóstico, também
apresentam valor prognóstico, como no caso do hipotireoidismo subclínico: quanto
maior a titulação plasmática, maior o risco de evoluir para hipotireoidismo
declarado.
Uma vez que os sinais e sintomas do
hipotireoidismo são muitas vezes enganosos, o médico de família deve estar
sempre atento a algumas alterações laboratoriais que podem ser a chave para o
diagnóstico dessa condição. Algumas delas são: anemia normocrômica normocítica,
hipercolesterolemia (presente em cerca de 4 a 14% dos hipotireóideos),
hiponatremia, hiperprolactinemia, hipoglicemia e elevação da
creatinofosfoquinase (fração MM predominantemente).11
Tratamento
O tratamento do hipotireoidismo declarado constitui-se na reposição com
HT sintético, a levotiroxina sódica. Trata-se de uma medicação efetiva, que
requer apenas uma tomada ao dia e apresenta baixa incidência de efeitos
colaterais. Vale frisar que as apresentações farmacêuticas existentes no mercado
são equivalentes, devendo-se evitar a manipulação desse fármaco em farmácias de
manipulação.
A dose de manutenção em adultos situa-se
em torno de 1,6 µg/kg e deve ser atingida de maneira escalonada, de acordo com a idade e
as condições mórbidas associadas: indivíduos com menos de 60 anos e sem
comorbidades – iniciar com 50 µg/dia (em indivíduos mais jovens, pode-se iniciar
com a dose plena); aqueles com mais de 60 anos e/ou doenças associadas – iniciar
com 25 µg/dia (aqui, os incrementos na dose devem ser feitos com parcimônia –
12,5 a 25 µg a cada 2 semanas).
É digno de nota considerar que pessoas
com síndrome de m· absorção ou cirurgia de bypass do intestino podem
apresentar prejuízo na absorção da levotiroxina. Esse fato também ocorre quando
h· o uso concomitante de algumas medicações: ferro, carbonato de cálcio,
suplementos minerais, hidróxido de alumínio, inibidores da bomba de prótons
(omeprazol, pantoprazol), sucralfato. Há também certos fármacos que aceleram o
metabolismo da levotiroxina: rifampicina, fenobarbital, fenitoína,
carbamazepina, podendo ser necessário o ajuste da dose de manutenção.
Quanto ao hipotireoidismo
subclínico, o tratamento ainda encontra recomendações divergentes na
literatura. Contudo, é consenso tratar indivíduos com TSH superior a 10 mUI/L e
grande risco de evolução para hipotireoidismo declarado (presença de
anticorpos antitireoidianos). Aqueles com TSH inferior a 10 mUI/L só devem
receber tratamento nas seguintes condições: dislipidemia associada, risco
cardiovascular aumentado, presença de sintomas de hipotireoidismo, bócio,
gestantes e mulheres inférteis que queiram engravidar.9
DICAS
Seguem algumas orientações quanto à monitoração do tratamento com
levotiroxina:
- Tomar o medicamento pela manhã, em jejum (aguardar meia hora antes do café), ingerido com bastante água – 1 copo pelo menos;
- Ajustar a dose em 25 mcg por vez (ajustes menores – p. ex., 12,5 mcg em idosos ou pessoas com problemas cardíacos);
- Requisitar novo TSH em 4 a 6 semanas a cada ajuste de dose;
- Pessoas que apresentam valores aumentados de TSH podem não estar tomando a levotiroxina de maneira adequada; reforçar o uso correto da medicação e repetir a dosagem de TSH em dois meses. Caso os valores de TSH permaneçam elevados, reajustar a dose;
- Após atingir o controle adequado (TSH dentro do valor normal), dosar o TSH anualmente, ou antes, caso a pessoa apresente sintomas ou no caso de mulheres que desejem engravidar ou estejam grávidas;
- Coronariopatas ou portadores de outras doenças cardiovasculares devem ser tratados de maneira conservadora (tolerando-se níveis séricos de TSH um pouco acima do valor de referência), a fim de se evitar induzir um quadro de hipertireoidismo iatrogênico;
- Alertar a pessoa sobre a demora na melhora dos sintomas clínicos (pode levar de 3 a 6 meses após a normalização do TSH).
Quando encaminhar
Embora a maioria dos médicos de família e comunidade esteja apta a diagnosticar
e tratar pessoas com hipotireoidismo, em algumas situações é aconselhável
encaminhar o paciente a um especialista:12
- Crianças e adolescentes
- Gestantes ou mulheres no período pós-parto
- Ausência de melhora clínica a despeito da prescrição correta da levotiroxina
- Portadores de doença cardiovascular ou gravemente enfermos
- Uso concomitante de fármacos, como lítio, amiodarona ou anticonvulsivantes (fenitoína e carbamazepina)
- Alterações estruturais da glândula: bócios volumosos, nódulos
- Hipotireoidismo grave, levando ao mixedema
- Hipotireoidismo central
TIREOTOXICOSE
Do que se trata
Na literatura, podem-se encontrar os termos hipertireoidismo e tireotoxicose
empregados como sinônimos, porém, conceitualmente, o primeiro se refere ao
aumento da produção de hormônios pela tireoide, e o segundo refere-se ao quadro
clínico decorrente da exposição dos tecidos-alvo ao excesso de HT (seja por
dano, hiperfunção da glândula ou por ingestão de HT). Somente em raras ocasiões
o hipertireoidismo não leva à tireotoxicose, como no caso da resistência aos HT,
em que os tecidos-alvo não são capazes de responder ao seu estímulo.
Tal como o hipotireoidismo, o
hipertireoidismo também pode ser subdividido em declarado e
subclínico. Na primeira condição, ocorre aumento das concentrações dos HT
e supressão do TSH, enquanto o hipertireoidismo subclínico é definido
como concentração suprimida de TSH com valores normais de HT, na ausência de
doença hipofisária ou hipotalâmica.
Quanto à epidemiologia dessa condição,
segundo o já citado estudo prospectivo sobre a epidemiologia das doenças
tireoidianas (Whickham Survey), a incidência média de hipertireoidismo
nas mulheres foi de 0,8 casos por mil/ano, sendo insignificante nos
homens.2 Estudos de prevalência demonstram que a presença de
hipertireoidismo situa-se em torno de 2 a 3% das mulheres e 0,2% dos
homens,13 sendo essas taxas semelhantes no
Brasil.3
Há também diferenças quanto à
prevalência das principais causas de hipertireoidismo em relação à suficiência
de iodo na dieta (áreas carentes de iodo apresentam maior número de indivíduos
com bócio multinodular em relação à doença de Graves) e quanto à idade (bócio
multinodular é mais comum em idosos).
De maneira didática, as causas de
tireotoxicose podem ser divididas em dois grandes grupos: 1) Endógenas:
decorrentes do aumento da produção hormonal pela tireoide ou da destruição do
tecido tireoidiano por processo inflamatório, com a liberação do HT na corrente
sanguínea; 2) exógenas: relacionadas ao uso de certas medicações.
A grande maioria dos casos de
tireotoxicose por hipertireoidismo pertence a três etiologias principais: doença
de Graves, bócio multinodular e adenoma tóxico, com uma pequena contribuição das
tireoidites. As demais causas podem ser vistas no Quadro 163.4.
Quadro 163.4. Causas de tireotoxicose importantes para o
generalista
Grupo de causas
|
Endógenas
|
Doença de Graves
|
Bócio nodular tóxico (uni ou multinodular)
|
Tireoidites
|
Subaguda (granulomatosa ou De Quervain)
|
Autoimunes (Hashimoto, atrófica, pós-parto)
|
Estímulo da tireoide pela gonadotrofina coriônica humana (ß-HCG)
|
Mola hidatiforme
|
Coriocarcinoma
|
Struma ovarii (produção ectópica de HT)
|
Induzida por excesso de iodo
|
Medicamentos (amiodarona, contraste)
|
Pós-dose terapêutica com iodo radiativo
|
Suplementos nutricionais
|
Induzida por excesso de TSH
|
Tumores hipofisários produtores de TSH
|
Resistência aos hormônios tireoidianos
|
Câncer folicular tireoidiano (raramente)
|
Exógenas
|
Iatrogênica – excesso de ingestão de HT (levotiroxina, alimentos
contendo HT)
|
Factícia
|
A principal causa de hipertireoidismo é a doença de Graves (60 a 80% dos casos).
Caracteriza-se por ser uma disfunção autoimune causada pela existência de
anticorpos IgG estimuladores do receptor do TSH, que mimetizam o efeito da
tireotrofina produzida pela hipófise, estimulando o aumento de volume e a função
da tireoide. Além de sua característica clássica (hipertireoidismo), a doença de
Graves frequentemente está associada à orbitopatia autoimune infiltrativa
(orbitopatia de Graves) e, mais raramente, à dermopatia ou mixedema
pré-tibial.14 Alguns autores trazem uma interessante revelação sobre
a possibilidade de estímulos ambientais (eventos estressantes de vida, infecções
virais) poderem desencadear a produção dos anticorpos pelo
organismo.15 Vale salientar que os termos “doença de Graves” e
“hipertireoidismo” não são sinônimos, pois algumas pessoas apresentam
manifestações oculares sem hipertireoidismo, e, conforme já explicitado, existem
outras causas de hipertireoidismo que não a doença de Graves.
O bócio multinodular tóxico é a segunda
causa mais comum de hipertireoidismo. Caracteriza-se pela presença de um ou mais
nódulos autônomos hiperfuncionantes. A evolução de um bócio difuso para um bócio
multinodular atóxico e deste para um bócio multinodular tóxico é gradual
(geralmente muitos anos) e depende, em grande parte, da quantidade diária de
iodo ingerido na dieta (em áreas carentes de iodo, chega a ser 10 vezes mais
comum). Acomete mais indivíduos acima de 60 anos e é mais comum em
mulheres.16
O adenoma tóxico causa hipertireoidismo
por mecanismo semelhante ao do bócio multinodular (produção de HT pelas células
foliculares independentemente da regulação do TSH). A diferença é que, ao
contrário do bócio multinodular tóxico (em que as alterações genéticas
responsáveis pelo automatismo são, na maioria, indeterminadas), no adenoma
tóxico o crescimento e a diferenciação celular das células foliculares são
secundários a uma mutação no gene que expressa o receptor de TSH. Sua
prevalência aumenta com a idade, também é mais comum em mulheres e geralmente
desenvolve autonomia quando o nódulo atinge diâmetro maior que 3 cm. E, à
semelhança do anterior, apresenta maior prevalência em áreas com carência de
iodo alimentar.
Outras causas não incomuns de
hipertireoidismo são aquelas induzidas por medicamentos, sendo a de maior
importância, pela frequência de seu uso, a amiodarona. Cerca de 37% da estrutura
química desse antiarrítmico é composta por iodo, o que se traduz em uma
liberação diária desse composto no organismo da ordem de 75 a 225 mg
(correspondente à dose de manutenção de 200 a 600 mg/dia de amiodarona).
Portanto, cerca de 3% das pessoas que usam esse fármaco podem se tornar
hipertireóideas basicamente por meio de dois mecanismos: a) o excesso de iodo
contido na amiodarona induz a síntese de HT (efeito semelhante ao fenômeno de
Jod-Basedow – hipertireoidismo induzido pela ingestão de iodo), especialmente em
pessoas com uma doença subjacente da tireoide (p. ex., doença de Graves ou bócio
uni ou multinodular tóxico latente); b) a ação tóxica direta da amiodarona leva
à destruição das células foliculares e à consequente liberação de HT na
circulação.17 Devido à sua complexidade (p. ex., descontinuar ou não
a amiodarona), geralmente esses casos requerem a opinião de um endocrinologista
experiente.
O que fazer
Anamnese
Os sintomas clássicos de tireotoxicose são: hiperatividade, perda de peso,
sudorese excessiva, irritabilidade e palpitações (Quadro 163.5).18
Contudo, geralmente, as manifestações clínicas surgem de maneira insidiosa,
influenciadas pela idade da pessoa (em geral, os quadros são menos evidentes nos
idosos), etiologia e duração da doença, grau de excesso de HT circulante e pela
presença de comorbidades (p. ex., doença coronariana, insuficiência cardíaca ou
transtorno psiquiátrico).
Quadro 163.5. Sintomas mais comuns nos quadros de tireotoxicose
Irritabilidade/nervosismo, hiperatividade
|
Intolerância ao calor, sudorese aumentada
|
Palpitação
|
Cansaço, fraqueza
|
Perda de peso com aumento do apetite
|
Diarreia
|
Poliúria
|
Oligomenorreia, perda de libido
|
Não obstante, ao entrevistar a pessoa, o médico de família deve estar atento aos seguintes fatores de risco associados ao desenvolvimento de hipertireoidismo: a) pessoais: sexo feminino, disfunção tireoidiana prévia, uso de medicamentos (amiodarona, citocinas, lítio) ou compostos que contenham iodo, tabagismo (risco maior para oftalmopatia), puerpério, fator estressante ambiental (separação, morte, etc.); b) familiares: doenças da tireoide, doenças autoimunes (miastenia grave, diabetes melito tipo 1, insuficiência suprarrenal primária).16, 19
Exame físico
Os achados do exame físico mais comuns de um indivíduo com tireotoxicose estão
descritos no Quadro 163.6.
Quadro 163.6. Sinais mais comuns nos quadros de
tireotoxicose
Taquicardia, fibrilação atrial
|
Tremor de extremidades
|
Bócio
|
Pele quente e úmida
|
Fraqueza muscular, miopatia proximal
|
Retração palpebral
|
Ginecomastia
|
Fonte: Jameson e Weetman.18
Na doença de Graves, a maioria dos indivíduos apresenta uma tireoide difusamente
aumentada (geralmente 2 a 3 vezes o tamanho normal), lisa, firme e indolor.
Pode-se encontrar também a presença de frêmito e sopro nos bócios de maior
volume. Já naqueles com bócio multinodular, o exame da glândula revela um
aumento difuso e irregular, com a presença de nódulos de diversos tamanhos em
sua superfície. No adenoma tóxico, o achado característico é a presença de um
nódulo unilateral, firme, bem definido, normalmente maior que 3 cm.
Em relação aos olhos, pode ocorrer
retração das pálpebras superiores e/ou inferiores, que é frequente em todas as
formas de tireotoxicose, independentemente da sua causa. Também é comum o atraso
palpebral. Essas manifestações oculares parecem ser resultantes do aumento do
tônus adrenérgico e devem ser diferenciadas da orbitopatia infiltrativa, que
ocorre apenas na doença de Graves.
A orbitopatia de Graves é uma doença
autoimune, em que linfócitos T circulantes dirigidos contra o antígeno das
células foliculares tireoidianas reconhecem um antígeno semelhante em tecidos
orbitários, com consequente infiltração da órbita por células T ativadas,
liberação de citocinas (?-interferon, interleucina – e fator de necrose tumoral ß), estimulação
da expressão de proteínas imunomoduladoras e produção de moléculas
glicosaminoglicanas pelos fibroblastos orbitários. Devido à inflamação e ao
acúmulo dessas moléculas glicosaminoglicanas (principalmente ácido hialurônico)
nos músculos extraoculares e tecidos adiposo e conectivo retro-orbitários ocorre
aumento do volume, elevação da pressão retrobulbar, com edema e hiperemia
conjuntival, exoftalmia, alteração da motilidade muscular, diplopia e, em casos
graves, disfunção do nervo óptico.14, 20
A dermopatia da doença de Graves
(mixedema pré-tibial) caracteriza-se por uma lesão nodular ou em placa,
eritematoinfiltrada (aspecto semelhante ao de uma casca de laranja), localizada
geralmente na região tibial anterior ou dorsal do pé. É um achado bem menos
frequente (menos de 5% dos casos) e praticamente está associado à
orbitopatia.
Por fim, o quadro clínico dos indivíduos
com bócio uni ou multinodular tóxico é bem menos flagrante que aquele dos
indivíduos com doença de Graves, pelo fato de haver menor quantidade de HT
circulante nos casos de doença nodular e por apresentar maior incidência em
faixas etárias mais tardias.
Exames complementares
Assim como no hipotireoidismo, a confirmação diagnóstica também se faz pela
dosagem de TSH e HT (geralmente T4L), que, na forma declarada da
doença, se encontram diminuída (normalmente < 0,1 mUI /L) e elevada,
respectivamente. Já no hipertireoidismo subclínico, a concentração sérica de TSH
encontra-se suprimida (abaixo de 0,3 mUI /L) e os valores de HT estão dentro da
faixa de normalidade.
Uma causa rara de tireotoxicose é o
hipertireoidismo induzido por TSH devido a um adenoma produtor de TSH ou
resistência aos hormônios tireoidianos; nesses casos, a pessoa apresenta
concentração de TSH normal ou elevada, apesar das altas concentrações de
HT.21
A dosagem dos anticorpos antirreceptores
do TSH (TRAb) representa um recurso auxiliar para o diagnóstico diferencial das
causas de hipertireoidismo (estão presentes em mais de 90% das pessoas com
doença de Graves), mas a sua utilidade diagnóstica é limitada, pois a análise
dos sinais e sintomas, aliada à constatação da hiperfunção da glândula pelo
TSH/T4L, torna a determinação dos anticorpos TRAb desnecessária na
maioria dos casos. Há, no entanto, algumas situações nas quais se justificaria a
determinação desse anticorpo: 1) em indivíduos eutireóideos com oftalmopatia de
Graves; 2) para avaliar o risco de hipertireoidismo neonatal em mães com doença
de Graves; 3) para analisar a probabilidade de recidiva em indivíduos com doença
de Graves após a suspensão do tratamento clínico.16
O exame de captação de iodo radiativo
(I123 ou I131), outrora usado como recurso diagnóstico,
perdeu espaço para as técnicas mais modernas de dosagem de TSH ultrassensíveis e
dosagem de anticorpos, contudo ainda é solicitado quando a história clínica, o
exame físico e as dosagens hormonais não conseguem definir a etiologia da
tireotoxicose, como: destruição de folículos tireoidianos por neoplasias,
tireoidites autoimunes, radiação ou tireotoxicose factícia (nesses casos, a
captação de iodo radiativo encontra-se suprimida) e como auxiliar no cálculo da
dose de I131 a ser empregado na radioiodoterapia.
Nos indivíduos com suspeita de doença
nodular e que apresentam tireotoxicose, a cintilografia da tireoide está
formalmente indicada, a fim de se estabelecer o diagnóstico diferencial entre
bócio multinodular (nesse acaso, a concentração de radioisótopo se distribui de
maneira heterogênea) e adenoma tóxico (revela um nódulo único hiperfuncionante,
com o restante da glândula hipofuncionante).
Conduta proposta
Tratamento
A escolha do tipo de tratamento vai depender de vários fatores, como: causa e
gravidade da doença, idade da pessoa, tamanho do bócio, preferências regionais,
custo, comorbidades associadas e preferência da pessoa. Além da ciência desses
fatores, cabe ao médico de família considerar o encaminhamento dessas pessoas
para profissionais ou serviços com maior experiência no tratamento de doenças da
tireoide (tal fato vai depender da segurança desse profissional em lidar com
pessoas com hipertireoidismo, da estrutura e organização do sistema de saúde
local, etc.).
Como terapia adjuvante ao controle dos
sintomas adrenérgicos (palpitações, tremores, nervosismo), são usados fármacos
betabloqueadores (propranolol, atenolol) em doses progressivamente maiores até a
melhora dos sintomas (p. ex., 80 a 120 mg de propranolol/dia). No caso das
tireoidites, muitas vezes são os únicos medicamentos utilizados para o controle
da curta fase de hipertireoidismo característica desse grupo de
doenças.
Quando a escolha for o uso de
medicamentos antitireoidianos, tem-se à disposição no Brasil os seguintes:
propiltiouracil e metimazol. Essas tionamidas agem basicamente bloqueando a
oxidação e organificação do iodo na tireoide, suprimindo, assim, a síntese do
hormônio pela glândula. O propiltiouracil prescrito em altas doses também possui
uma ação periférica, bloqueando a conversão da tiroxina em tri-iodotironina
(efeito desejável nos casos de hipertireoidismo grave).
Apesar de ambas serem efetivas, a
recomendação atual é que se dê preferência ao metimazol, devido à sua comodidade
posológica (uma tomada ao dia), menor custo e menor incidência de efeitos
colaterais (raros em doses menores que 20 mg/dia). A dose inicial é de 15 a 30
mg/dia, devendo ser reajustada de acordo com as dosagens de TSH/T4L
(em geral, atinge-se controle satisfatório com 6 a 12 semanas de tratamento). É
importante salientar que o melhor parâmetro laboratorial de controle do
hipertireoidismo são os níveis de T4L e T3L, visto que as
dosagens de TSH podem permanecer suprimidas por v·rios meses, mesmo quando as
pessoas se tornam eutireóideas.13
Após 12 a 18 meses de tratamento
clínico, o medicamento antitireoidiano deve ser suspenso, e os títulos de
TSH/T4L, acompanhados a intervalos regulares. A remissão do
hipertireoidismo é conseguida em até 50% dos casos de pessoas com doença de
Graves, havendo maiores chances de retorno dos sintomas após a suspensão do
tratamento em pessoas com bócios volumosos, longo tempo de doença e níveis muito
elevados de T3.16 Caso haja recidiva da doença, o melhor a
fazer é encaminhar a pessoa para tratamento definitivo (normalmente
radioiodoterapia).
O uso do iodo radiativo
(I131) é primeira opção para o tratamento da doença de Graves nos EUA
e em alguns países da Europa. Também se opta por esse tipo de terapia nos casos
de bócio multinodulares ou adenoma tóxico. Por causar destruição celular e
atrofia da glândula, a maioria das pessoas torna-se hipotireóidea ao final de um
ano da radioiodoterapia (fato que precisa ser informado à pessoa). É, pois, uma
terapia de baixo custo, eficaz, de fácil administração e segura (não há
evidências de que esteja associada a maiores índices de câncer da tireoide ou a
outros tipos de neoplasias).13
O tratamento cirúrgico é empregado
apenas em casos bem selecionados (p. ex., bócios muito volumosos, presença de
nódulos malignos, falha do tratamento clínico em gestantes durante o último
trimestre). A técnica mais usada é a tireoidectomia subtotal, devido à menor
chance de complicações.
Quanto ao tratamento dos quadros de
tireotoxicose que acompanham as tireoidites, conforme já mencionado, a maioria
dos casos não necessita de tratamento específico, apenas o uso de
betabloqueadores na fase inicial. No caso da tireoidite subaguda, para o
controle da dor, podem ser prescritos analgésicos comuns (paracetamol),
anti-inflamatórios não hormonais ou até mesmo esteroides por via oral
(prednisona 20 a 40 mg/dia, com retirada gradual).
O tratamento do hipertireoidismo
subclínico, ainda que controverso, encontra consenso entre os especialistas
nas seguintes situações: idosos (> 60 anos) ou mulheres na pós-menopausa,
pacientes com evidência de doença cardíaca (p. ex., fibrilação atrial recente,
insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana), indivíduos com osteoporose
e pessoas que possuam dosagem de TSH inferior a 0,1 mUI /L.22
DICAS
- Para
a confirmação
diagnóstica de hipertireoidismo, é preferível utilizar as dosagens séricas de
T4L (eventualmente T3L), pois condições que afetam as
concentrações das globulinas ligadoras dos hormônios tireoidianos podem afetar
as dosagens de T3 e T4 totais (Quadro 163.7).4
- Às
vezes,
nos estágios iniciais de tireotoxicose, o clínico pode deparar-se com a seguinte
situação: TSH supresso, T4L normal e T3L aumentado (quadro
conhecido como tireotoxicose por T3).
- É
aconselhável a realização de um hemograma antes do início da medicação
antitireoidiana. Contudo,
não há necessidade de submeter a pessoa à análise seriada dos granulócitos, mas,
sim, orientar quanto à necessidade de interrupção do tratamento e da procura
imediata de assistência médica caso apresente dores de garganta, febre ou outro
sinal de imunossupressão.
- Durante o
primeiro trimestre da gestação e na lactação, o fármaco de escolha é o
propiltiouracil.
Quadro 163.7. Circunstâncias associadas a alterações da ligação dos HT à
globulina carreadora
Aumentam
Diminuem
Doença hepática
Hipoproteinemia
Linfoma
Síndrome nefrótica
Gravidez
Desnutrição grave
Infecção pelo HIV
Enteropatia perdedora de proteína
Anticoncepcionais hormonais
Androgênios
Anfetaminas
Salicilatos
Amiodarona
Furosemida
Propranolol
Altas doses de glicocorticoides
Heroína
Fenitoína
Fonte: Fischbach e Dunning.23
Quando encaminhar
Conforme já mencionado, a menos que o médico de família seja bastante
experimentado no manejo de indivíduos com hipertireoidismo (declarado e
subclínico), é aconselhável seu encaminhamento a especialistas
habilitados.
Seria interessante que, em comum acordo
com o endocrinologista, a pessoa já saia do consultório do generalista medicada
(betabloqueadores e, talvez, tionamidas), para se ganhar tempo no controle dos
sintomas, evitando-se também complicações relacionadas à doença.
NÓDULOS TIREOIDIANOS
Do que se trata
Nódulos tireoidianos palpáveis constituem um achado clínico comum, apresentando
uma prevalência de 4 a 7% nas mulheres e 1% nos homens, que pode chegar a 67%
dos casos, quando considerados achados acidentais em estudos
ultrassonográficos.24
O que fazer
O principal desafio do médico de família diante de uma pessoa com suspeita de
nódulo tireoidiano é excluir neoplasia maligna, pois, apesar de a grande maioria
dos nódulos ser benigna, cerca de 5 a 10% deles são carcinomas de
tireoide.
A melhor forma de avaliar o risco de
malignidade na doença nodular tireoidiana é aliar uma avaliação clínica
criteriosa à realização de dosagem de TSH, ultrassonografia e classificação
citológica por meio da punção aspirativa com agulha fina (PAAF).
Anamnese
O exame clínico (anamnese e exame físico) deve ser realizado de maneira a buscar
os principais fatores de risco para o câncer de tireoide, quais
sejam:25
- Irradiação de cabeça ou pescoço quando criança, ou irradiação total
recebida (p. ex., preparação para transplantes de medula), história familiar de
câncer de tireoide (parentes de primeiro grau) ou neoplasia endócrina múltipla,
queixas de mudanças na voz, tosse e crescimento rápido do nódulo.
Exame físico
Fixação ao tecido subjacente (verificar mobilidade à deglutição), adenomegalia
regional ipsilateral, paralisia de corda vocal ipsilateral.
Exames complementares
A dosagem do TSH sanguíneo deve ser realizada em todas as pessoas, a fim de se
descartar possível hipertireoidismo. Nas situações em que o TSH estiver
diminuído ou supresso e o T3L e T4L aumentados,
praticamente est· descartado câncer, pois a grande maioria das pessoas com
neoplasia maligna da tireoide é eutiróidea.26
O exame ultrassonográfico também deve
fazer parte da análise, pois, além da sua finalidade diagnóstica (possui
sensibilidade de 97%), pode auxiliar tanto na terapia (p. ex., injeção de
etanol) como no monitoramento dos nódulos. Apresenta limitação na diferenciação
de nódulos benignos de malignos, contudo pode fornecer alguns achados que são
sugestivos de malignidade (hipoecogenicidade, microcalcificações, margens
irregulares e hipervascularização intranodular).25
A PAAF é o exame tido como padrão-ouro
para se diferenciar nódulos benignos de malignos (acurácia ainda maior quando
guiada pela ultrassonografia). Está indicada em todos os nódulos acima de 1 cm
de diâmetro, naqueles com características de malignidade ao exame
ultrassonográfico (independentemente do tamanho) ou quando houver fatores de
risco para câncer de tireoide na história clínica.
Conduta proposta
Tratamento
Para os casos em que a PAAF indicar malignidade ou suspeita de malignidade, o
tratamento primário é a remoção cirúrgica da glândula tireoide (total ou quase
total).
Nos indivíduos com bócio multinodular
atóxico, devem-se puncionar apenas os nódulos maiores ou iguais a 1 cm, ou
menores, caso possuam critérios de malignidade ditados pela
ultrassonografia.
Já para aqueles com resultado benigno da
citologia obtida pela PAAF, aconselha-se acompanhamento clínico com realização
de novo exame de ultrassonografia a cada 12 a 18 meses (intervalos maiores se o
nódulo permanecer estável). Deve-se repetir a PAAF apenas se houver aumento de
20% ou mais do nódulo.
Quando encaminhar
Indivíduos sem fatores de risco clínico ou ultrassonográfico para câncer de
tireoide, que apresentam nódulos palpáveis com as mesmas características por
anos, ou com nódulos não palpáveis assintomáticos, recém-descobertos por exame
de imagem do pescoço, podem ser perfeitamente acompanhados por um médico de
família.
Contudo, seguem algumas situações que
merecem encaminhamento a especialista habilitado, segundo o grau de
prioridade:27
- Não urgente: quando avaliação inicial demonstrar TSH diminuído ou supresso.
- Urgente (espera
permitida de 2 semanas): mudanças na voz ou rouquidão sem causa aparente, nódulo
tireoidiano em crianças, surgimento de adenopatia cervical (região cervical
profunda ou supraclavicular), crescimento rápido e assintomático da tireoide em
um período de semanas (apresentação rara de câncer de tireoide).
Referências
1. Stange KC, Zyzanski SJ, Jaen CR. Illuminating the “black box”. A
description of 4454 patient visits to 138 family physicians. J Fam Pract.
1998;46(5):377-89.
2. Vanderpump MP, Tunbridge WM, French JM. The incidence of thyroid
disorders in the community: a twenty-year follow-up of the Whickham Survey. Clin
Endocrinol (Oxf). 1995;43(1):55-68.
3. Camargo RYA, Tomimori EK, Neves SC.
Prevalence of chronic autoimmune thyroiditis in the urban area
neighboring a petrochemical complex and a control area in Sao Paulo, Brazil.
Clinics. 2006;61:307-12.
4. Pearce EN, Farwell AP, Braverman LE. Thyroiditis. N Engl J Med.
2003;348(26):2646-55.
5. Ross DS. Disorders that cause hypothyroidism. Waltham: UpToDate;
2009.
6. Zulewski H, Muller B, Exer P. Estimation of tissue hypothyroidism by
a new clinical score: evaluation of patients with various grades of
hypothyroidism and controls. J Clin Endocrinol Metab. 1997;82(3):771-6.
7. Drury IL, Howlett TA. Endocrine disease. In: Kumar P, Clark M,
editors. Clinical medicine. 7th ed. Edinburgh: WB Saunders; 2009.
8. Nogueira CR, Kimura ET, Carvalho GA. Hipotiroidismo: diagnóstico.
Primeiras Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar: versão preliminar. Rio de
Janeiro: Agência Nacional de Saúde Suplementar; 2009.
9. Doucet J, Trivalle C, Chassagne P. Does age play a role in clinical
presentation of hypothyroidism? J Am Geriatr Soc. 1994;42(9):984-6.
10. Saravanan P, Dayan CM. Thyroid autoantibodies. Endocrinol Metab Clin
North Am. 2001;30(2):315-37, viii.
11. Roberts CG, Ladenson PW. Hypothyroidism. Lancet.
2004;363(9411):793-803.
12. Garber JR, Hennessey JV, Liebermann JA 3rd. Clinical update: managing
the challenges of hypothyroidism. J Fam Pract. 2006;55(6):S1-8.
13. Reid JR, Wheeler SF. Hyperthyroidism: diagnosis and treatment. Am Fam
Physician. 2005;72(4):623-30.
14. Weetman AP. Graves’ disease. N Engl J Med. 2000;343(17):1236-48.
15.
Lazarus JH. Hyperthyroidism. Lancet. 1997;349(9048):339-43.
16. Maia ALS, Vaisman M. Hipertiroidismo.
São Paulo: Associação Médica Brasileira; 2006.
17. Pavan R, Jesus AMX, Maciel LMZ. A amiodarona e a tireóide. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2004;48:176-82.
18. Jameson JL, Weetman AP. Disorders of the thyroid gland. In: Fauci AS,
Braunwald EB, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Jameson JL, editors. Harrisonís
principles of internal medicine. 17th ed. New York: McGraw-Hill; 2008.
19. Ginsberg J. Diagnosis and management of Gravesí disease. CMAJ.
2003;168(5):575-85.
20. Bahn RS. Graves’ ophthalmopathy. N Engl J Med. 2010;362(8):726-38.
21. Weiss RE, Refetoff S. Resistance to thyroid hormone. Rev Endocr Metab
Disord. 2000;1(1-2):97-108.
22. Cooper DS. Approach to the patient with subclinical hyperthyroidism.
J Clin Endocrinol Metab. 2007;92(1):3-9.
23. Fischbach FT, Dunning III MB. A manual of laboratory and diagnostic
tests. 7th ed. Philadelphia: Lippincott; 2004.
24. Kimura ET, Tincani AJ, Ward LS.
Doença nodular da tireóide: diagnóstico. Rio de Janeiro: Agência
Nacional de Saúde Suplementar; 2009.
25.
Maia
AL, Ward LS, Carvalho GA. Nódulos de tireóide e câncer diferenciado de tireóide:
consenso brasileiro. Arq
Bras Endocrinol Metabol. 2007;51:867-93.
26. Singer PA, Cooper DS, Daniels GH. Treatment guidelines for patients
with thyroid nodules and well-differentiated thyroid cancer. American Thyroid
Association. Arch Intern Med. 1996;156(19):2165-72.
27. British Thyroid Association. Guidelines for the management of thyroid
cancer. London: Royal College of Physicians; 2007.
Fonte: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5266/capitulo_163_–_problemas_de_tireoide.htm
Assim como no hipotireoidismo, a confirmação diagnóstica também se faz pela
dosagem de TSH e HT (geralmente T4L), que, na forma declarada da
doença, se encontram diminuída (normalmente < 0,1 mUI /L) e elevada,
respectivamente. Já no hipertireoidismo subclínico, a concentração sérica de TSH
encontra-se suprimida (abaixo de 0,3 mUI /L) e os valores de HT estão dentro da
faixa de normalidade.
Uma causa rara de tireotoxicose é o
hipertireoidismo induzido por TSH devido a um adenoma produtor de TSH ou
resistência aos hormônios tireoidianos; nesses casos, a pessoa apresenta
concentração de TSH normal ou elevada, apesar das altas concentrações de
HT.21
A dosagem dos anticorpos antirreceptores
do TSH (TRAb) representa um recurso auxiliar para o diagnóstico diferencial das
causas de hipertireoidismo (estão presentes em mais de 90% das pessoas com
doença de Graves), mas a sua utilidade diagnóstica é limitada, pois a análise
dos sinais e sintomas, aliada à constatação da hiperfunção da glândula pelo
TSH/T4L, torna a determinação dos anticorpos TRAb desnecessária na
maioria dos casos. Há, no entanto, algumas situações nas quais se justificaria a
determinação desse anticorpo: 1) em indivíduos eutireóideos com oftalmopatia de
Graves; 2) para avaliar o risco de hipertireoidismo neonatal em mães com doença
de Graves; 3) para analisar a probabilidade de recidiva em indivíduos com doença
de Graves após a suspensão do tratamento clínico.16
O exame de captação de iodo radiativo
(I123 ou I131), outrora usado como recurso diagnóstico,
perdeu espaço para as técnicas mais modernas de dosagem de TSH ultrassensíveis e
dosagem de anticorpos, contudo ainda é solicitado quando a história clínica, o
exame físico e as dosagens hormonais não conseguem definir a etiologia da
tireotoxicose, como: destruição de folículos tireoidianos por neoplasias,
tireoidites autoimunes, radiação ou tireotoxicose factícia (nesses casos, a
captação de iodo radiativo encontra-se suprimida) e como auxiliar no cálculo da
dose de I131 a ser empregado na radioiodoterapia.
Nos indivíduos com suspeita de doença
nodular e que apresentam tireotoxicose, a cintilografia da tireoide está
formalmente indicada, a fim de se estabelecer o diagnóstico diferencial entre
bócio multinodular (nesse acaso, a concentração de radioisótopo se distribui de
maneira heterogênea) e adenoma tóxico (revela um nódulo único hiperfuncionante,
com o restante da glândula hipofuncionante).
Conduta proposta
Tratamento
A escolha do tipo de tratamento vai depender de vários fatores, como: causa e
gravidade da doença, idade da pessoa, tamanho do bócio, preferências regionais,
custo, comorbidades associadas e preferência da pessoa. Além da ciência desses
fatores, cabe ao médico de família considerar o encaminhamento dessas pessoas
para profissionais ou serviços com maior experiência no tratamento de doenças da
tireoide (tal fato vai depender da segurança desse profissional em lidar com
pessoas com hipertireoidismo, da estrutura e organização do sistema de saúde
local, etc.).
Como terapia adjuvante ao controle dos
sintomas adrenérgicos (palpitações, tremores, nervosismo), são usados fármacos
betabloqueadores (propranolol, atenolol) em doses progressivamente maiores até a
melhora dos sintomas (p. ex., 80 a 120 mg de propranolol/dia). No caso das
tireoidites, muitas vezes são os únicos medicamentos utilizados para o controle
da curta fase de hipertireoidismo característica desse grupo de
doenças.
Quando a escolha for o uso de
medicamentos antitireoidianos, tem-se à disposição no Brasil os seguintes:
propiltiouracil e metimazol. Essas tionamidas agem basicamente bloqueando a
oxidação e organificação do iodo na tireoide, suprimindo, assim, a síntese do
hormônio pela glândula. O propiltiouracil prescrito em altas doses também possui
uma ação periférica, bloqueando a conversão da tiroxina em tri-iodotironina
(efeito desejável nos casos de hipertireoidismo grave).
Apesar de ambas serem efetivas, a
recomendação atual é que se dê preferência ao metimazol, devido à sua comodidade
posológica (uma tomada ao dia), menor custo e menor incidência de efeitos
colaterais (raros em doses menores que 20 mg/dia). A dose inicial é de 15 a 30
mg/dia, devendo ser reajustada de acordo com as dosagens de TSH/T4L
(em geral, atinge-se controle satisfatório com 6 a 12 semanas de tratamento). É
importante salientar que o melhor parâmetro laboratorial de controle do
hipertireoidismo são os níveis de T4L e T3L, visto que as
dosagens de TSH podem permanecer suprimidas por v·rios meses, mesmo quando as
pessoas se tornam eutireóideas.13
Após 12 a 18 meses de tratamento
clínico, o medicamento antitireoidiano deve ser suspenso, e os títulos de
TSH/T4L, acompanhados a intervalos regulares. A remissão do
hipertireoidismo é conseguida em até 50% dos casos de pessoas com doença de
Graves, havendo maiores chances de retorno dos sintomas após a suspensão do
tratamento em pessoas com bócios volumosos, longo tempo de doença e níveis muito
elevados de T3.16 Caso haja recidiva da doença, o melhor a
fazer é encaminhar a pessoa para tratamento definitivo (normalmente
radioiodoterapia).
O uso do iodo radiativo
(I131) é primeira opção para o tratamento da doença de Graves nos EUA
e em alguns países da Europa. Também se opta por esse tipo de terapia nos casos
de bócio multinodulares ou adenoma tóxico. Por causar destruição celular e
atrofia da glândula, a maioria das pessoas torna-se hipotireóidea ao final de um
ano da radioiodoterapia (fato que precisa ser informado à pessoa). É, pois, uma
terapia de baixo custo, eficaz, de fácil administração e segura (não há
evidências de que esteja associada a maiores índices de câncer da tireoide ou a
outros tipos de neoplasias).13
O tratamento cirúrgico é empregado
apenas em casos bem selecionados (p. ex., bócios muito volumosos, presença de
nódulos malignos, falha do tratamento clínico em gestantes durante o último
trimestre). A técnica mais usada é a tireoidectomia subtotal, devido à menor
chance de complicações.
Quanto ao tratamento dos quadros de
tireotoxicose que acompanham as tireoidites, conforme já mencionado, a maioria
dos casos não necessita de tratamento específico, apenas o uso de
betabloqueadores na fase inicial. No caso da tireoidite subaguda, para o
controle da dor, podem ser prescritos analgésicos comuns (paracetamol),
anti-inflamatórios não hormonais ou até mesmo esteroides por via oral
(prednisona 20 a 40 mg/dia, com retirada gradual).
O tratamento do hipertireoidismo
subclínico, ainda que controverso, encontra consenso entre os especialistas
nas seguintes situações: idosos (> 60 anos) ou mulheres na pós-menopausa,
pacientes com evidência de doença cardíaca (p. ex., fibrilação atrial recente,
insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana), indivíduos com osteoporose
e pessoas que possuam dosagem de TSH inferior a 0,1 mUI /L.22
DICAS
- Para a confirmação diagnóstica de hipertireoidismo, é preferível utilizar as dosagens séricas de T4L (eventualmente T3L), pois condições que afetam as concentrações das globulinas ligadoras dos hormônios tireoidianos podem afetar as dosagens de T3 e T4 totais (Quadro 163.7).4
- Às vezes, nos estágios iniciais de tireotoxicose, o clínico pode deparar-se com a seguinte situação: TSH supresso, T4L normal e T3L aumentado (quadro conhecido como tireotoxicose por T3).
- É aconselhável a realização de um hemograma antes do início da medicação antitireoidiana. Contudo, não há necessidade de submeter a pessoa à análise seriada dos granulócitos, mas, sim, orientar quanto à necessidade de interrupção do tratamento e da procura imediata de assistência médica caso apresente dores de garganta, febre ou outro sinal de imunossupressão.
- Durante o primeiro trimestre da gestação e na lactação, o fármaco de escolha é o propiltiouracil.
Quadro 163.7. Circunstâncias associadas a alterações da ligação dos HT à globulina carreadora
Aumentam
|
Diminuem
|
Doença hepática
|
Hipoproteinemia
|
Linfoma
|
Síndrome nefrótica
|
Gravidez
|
Desnutrição grave
|
Infecção pelo HIV
|
Enteropatia perdedora de proteína
|
Anticoncepcionais hormonais
|
Androgênios
|
Anfetaminas
|
Salicilatos
|
Amiodarona
|
Furosemida
|
Propranolol
|
Altas doses de glicocorticoides
|
Heroína
|
Fenitoína
|
Fonte: Fischbach e Dunning.23
Quando encaminhar
Conforme já mencionado, a menos que o médico de família seja bastante
experimentado no manejo de indivíduos com hipertireoidismo (declarado e
subclínico), é aconselhável seu encaminhamento a especialistas
habilitados.
Seria interessante que, em comum acordo
com o endocrinologista, a pessoa já saia do consultório do generalista medicada
(betabloqueadores e, talvez, tionamidas), para se ganhar tempo no controle dos
sintomas, evitando-se também complicações relacionadas à doença.
NÓDULOS TIREOIDIANOS
Do que se trata
Nódulos tireoidianos palpáveis constituem um achado clínico comum, apresentando
uma prevalência de 4 a 7% nas mulheres e 1% nos homens, que pode chegar a 67%
dos casos, quando considerados achados acidentais em estudos
ultrassonográficos.24
O que fazer
O principal desafio do médico de família diante de uma pessoa com suspeita de
nódulo tireoidiano é excluir neoplasia maligna, pois, apesar de a grande maioria
dos nódulos ser benigna, cerca de 5 a 10% deles são carcinomas de
tireoide.
A melhor forma de avaliar o risco de
malignidade na doença nodular tireoidiana é aliar uma avaliação clínica
criteriosa à realização de dosagem de TSH, ultrassonografia e classificação
citológica por meio da punção aspirativa com agulha fina (PAAF).
Anamnese
O exame clínico (anamnese e exame físico) deve ser realizado de maneira a buscar
os principais fatores de risco para o câncer de tireoide, quais
sejam:25
- Irradiação de cabeça ou pescoço quando criança, ou irradiação total recebida (p. ex., preparação para transplantes de medula), história familiar de câncer de tireoide (parentes de primeiro grau) ou neoplasia endócrina múltipla, queixas de mudanças na voz, tosse e crescimento rápido do nódulo.
Exame físico
Fixação ao tecido subjacente (verificar mobilidade à deglutição), adenomegalia
regional ipsilateral, paralisia de corda vocal ipsilateral.
Exames complementares
A dosagem do TSH sanguíneo deve ser realizada em todas as pessoas, a fim de se
descartar possível hipertireoidismo. Nas situações em que o TSH estiver
diminuído ou supresso e o T3L e T4L aumentados,
praticamente est· descartado câncer, pois a grande maioria das pessoas com
neoplasia maligna da tireoide é eutiróidea.26
O exame ultrassonográfico também deve
fazer parte da análise, pois, além da sua finalidade diagnóstica (possui
sensibilidade de 97%), pode auxiliar tanto na terapia (p. ex., injeção de
etanol) como no monitoramento dos nódulos. Apresenta limitação na diferenciação
de nódulos benignos de malignos, contudo pode fornecer alguns achados que são
sugestivos de malignidade (hipoecogenicidade, microcalcificações, margens
irregulares e hipervascularização intranodular).25
A PAAF é o exame tido como padrão-ouro
para se diferenciar nódulos benignos de malignos (acurácia ainda maior quando
guiada pela ultrassonografia). Está indicada em todos os nódulos acima de 1 cm
de diâmetro, naqueles com características de malignidade ao exame
ultrassonográfico (independentemente do tamanho) ou quando houver fatores de
risco para câncer de tireoide na história clínica.
Conduta proposta
Tratamento
Para os casos em que a PAAF indicar malignidade ou suspeita de malignidade, o
tratamento primário é a remoção cirúrgica da glândula tireoide (total ou quase
total).
Nos indivíduos com bócio multinodular
atóxico, devem-se puncionar apenas os nódulos maiores ou iguais a 1 cm, ou
menores, caso possuam critérios de malignidade ditados pela
ultrassonografia.
Já para aqueles com resultado benigno da
citologia obtida pela PAAF, aconselha-se acompanhamento clínico com realização
de novo exame de ultrassonografia a cada 12 a 18 meses (intervalos maiores se o
nódulo permanecer estável). Deve-se repetir a PAAF apenas se houver aumento de
20% ou mais do nódulo.
Quando encaminhar
Contudo, seguem algumas situações que
merecem encaminhamento a especialista habilitado, segundo o grau de
prioridade:27
- Não urgente: quando avaliação inicial demonstrar TSH diminuído ou supresso.
- Urgente (espera permitida de 2 semanas): mudanças na voz ou rouquidão sem causa aparente, nódulo tireoidiano em crianças, surgimento de adenopatia cervical (região cervical profunda ou supraclavicular), crescimento rápido e assintomático da tireoide em um período de semanas (apresentação rara de câncer de tireoide).
Referências
1. Stange KC, Zyzanski SJ, Jaen CR. Illuminating the “black box”. A
description of 4454 patient visits to 138 family physicians. J Fam Pract.
1998;46(5):377-89.
2. Vanderpump MP, Tunbridge WM, French JM. The incidence of thyroid
disorders in the community: a twenty-year follow-up of the Whickham Survey. Clin
Endocrinol (Oxf). 1995;43(1):55-68.
3. Camargo RYA, Tomimori EK, Neves SC.
Prevalence of chronic autoimmune thyroiditis in the urban area
neighboring a petrochemical complex and a control area in Sao Paulo, Brazil.
Clinics. 2006;61:307-12.
4. Pearce EN, Farwell AP, Braverman LE. Thyroiditis. N Engl J Med.
2003;348(26):2646-55.
5. Ross DS. Disorders that cause hypothyroidism. Waltham: UpToDate;
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